quarta-feira, 17 de abril de 2013
Mons.José Mario participa da Assembléia da CNBB
Monsenhor José Mario Angonese, nomeado Bispo Auxiliar de Curitiba, participa da 51ª Assembléia Geral da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) de 10 a 19 de abril de 2013 em Aparecida/SP. Manifestemos nossa unidade por meio das orações.
II Etapa da Escola Arquidiocesana da Juventude
No ultimo final de semana, dias 13 e 14 de abril, aconteceu em Santa Maria, no Colégio Coração de Maria, a II Etapa da Escola Arquidiocesana da Juventude. Nesta etapa o tema central foi a pessoa de Jesus Cristo, também foi estudado o tema Pastoral da Juventude, pelo fato deste ano estar completando 40 anos. Ao final da escola, foram dados alguns encaminhamentos práticos para a Jornada e a Semana Missionária. Participaram de nossa paróquia 29 jovens das diversas comunidades e cidade. Confira algumas fotos:
Jovens vindos das diversas paróquias da Arquidiocese |
Grupos de trabalho |
Missa celebrada pelo Pe. Cristiano Quatrin |
Noite Cultural |
Pessoal de Nova Palma |
Grupos de trabalhos |
Oração da manhã |
sexta-feira, 29 de março de 2013
Papa convida os jovens de todo o mundo a estarem com ele na JMJ Rio2013
Para quem ainda tinha dúvidas, agora é o próprio Papa Francisco que afirma: “Olho com alegria para o próximo mês de Julho, no Rio de Janeiro. Vinde! Encontramo-nos naquela grande cidade do Brasil!” A fala é um trecho da homilia do Santo Padre na Missa de Domingo de Ramos, ontem, dia 24, na Praça São Pedro. As palmas dos milhares de jovens que se concentravam na praça para a celebração também do Dia Mundial da Juventude logo após a esse convite se estenderam aos jovens que acompanhavam o discurso dos quatro cantos do mundo.
Em sua homilia, Papa Francisco ainda fez uma pequena reflexão sobre o tema da JMJ Rio2013 e exortou os jovens a se prepararem bem para o encontro: “Preparai-vos bem, sobretudo espiritualmente, nas vossas comunidades, para que o referido Encontro seja um sinal de fé para o mundo inteiro”.
O Papa ainda citou a Jornada Mundial da Juventude na oração do Ângelus ao término da missa de Ramos, antes da bênção final. “E de modo especial entrego a Maria vós próprios, caríssimos jovens, e o vosso itinerário rumo ao Rio de Janeiro”, falou em sua oração.
A homilia de Francisco
Além dos jovens, a alegria e a cruz também foram pontos em destaque ao longo da homilia do Papa Francisco. O esquema também se seguiu ao se aprofundar nas palavras à juventude. Relacionando os jovens à alegria do encontro com Cristo, celebrado há 28 anos no Domingo de Ramos, o Santo Padre reafirmou o espaço da juventude nesta festa da fé. “Vós trazeis-nos a alegria da fé e dizeis-nos que devemos viver a fé com um coração jovem, sempre… mesmo aos setenta, oitenta anos! Com Cristo, o coração nunca envelhece.”
Sobre os jovens e a Cruz, segunda palavra de destaque na homilia, o Papa lembrou a Cruz de madeira que é símbolo da JMJ e peregrina pelo mundo. Em sua fala, Francisco lembrou aos jovens de sua missão de leva-la correspondendo o convite de Jesus: “Ide e fazei discípulos entre as nações” (cf. Mt 28, 19), que é o tema da Jornada da Juventude deste ano. “Levai-la para dizer a todos que, na Cruz, Jesus abateu o muro da inimizade, que separa os homens e os povos, e trouxe a reconciliação e a paz”, ressaltou.
Papa Francisco também lembrou o João Paulo II, criador das Jornadas Mundiais da Juventude e patrono da JMJ Rio2013, e de Bento XVI, papa emérito que preparou a edição deste ano da JMJ. “Queridos amigos, na esteira do Beato João Paulo II e de Bento XVI, também eu me ponho a caminho convosco”, disse o Santo Padre.
Ao final, resumiu suas palavras exortando os fiéis: “Vivamos a alegria de caminhar com Jesus, de estar com Ele, levando a sua Cruz, com amor, com um espírito sempre jovem!”.
Rio: ponto de encontro do mundo
“Todos os caminhos levam ao Rio”, disse o cardeal Stanislaw Rylko, presidente do Pontifício Conselho para os Leigos, aos membros do Comitê Organizador Local em um dos encontros para a organização da Jornada Mundial da Juventude. E de fato isto está acontecendo. Públicos diversificados são esperados na cidade. Só neste ano, a capital carioca vai receber dois grandes eventos internacionais com uma demanda significativa de turistas de diferentes nacionalidades: a Copa das Confederações e a JMJ Rio2013.
Realizada um mês antes da JMJ, a Copa das Confederações é um torneio de futebol organizado pela FIFA. São cerca de 8 seleções participantes concorrendo a taça. Na JMJ, são esperados cerca de dois milhões de peregrinos. Além destes dois grandes eventos, o Rio também será palco da Copa do Mundo 2014 e das Olimpíadas 2016.
Não foi a toa que a cidade foi escolhida para sediar esses grandes eventos. A capital carioca está vivendo um bom momento e se prepara com afinco para fazer o melhor em todas essas ocasiões. E já mostrou do que é capaz. No ano passado, o Rio recebeu chefes de Estado e diplomatas de 193 países para a Conferência da ONU de Desenvolvimento Sustentável, Rio +20. E o balanço do evento, segundo as autoridades, foi muito positivo.
O trabalho conjunto da Arquidiocese do Rio e de todas as esferas do governo, federal, estadual e municipal, tem como objetivo acolher da melhor forma possível os peregrinos e voluntários do encontro da Juventude com o Papa. Os cuidados passam pela segurança, rede hoteleira e transporte público, entre outros fatores.
O governo, em suas várias instâncias tem investido em garantir um Rio de Janeiro cada vez mais seguro. Muitas comunidades já passaram por um processo de pacificação. De acordo com as autoridades federais, estaduais e municipais, durante a JMJ o Rio terá um esquema especial de segurança para garantir em todos os aspectos o êxito do evento.
Vale ressaltar, que a Cidade Maravilhosa já tem uma política própria para eventos de grande público. O Carnaval de rua, que acontece todos os anos na cidade por cinco dias seguidos, atrai cerca de seis milhões de foliões em um contexto mais desafiador que o do evento católico devido à natureza da festividade, já que nestes dias os participantes são até estimulados a consumir bebida alcoólica. Além disso, as autoridades, que participaram da última edição do evento em Madri, aprenderam a cultura da JMJ nesta ocasião e trocaram experiências com o governo madrileno.
A Cidade Maravilhosa, eleita Patrimônio Cultural da Humanidade no ano passado pela Unesco, espera de braços abertos os turistas, peregrinos, participantes, voluntários e autoridades destes grandes eventos nos próximos anos, como o símbolo máximo da cidade, o Cristo Redentor. Vale a pena seguir este caminho que leva ao Rio!
quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013
CAMPANHA DA FRATERNIDADE 2013 SERÁ ABERTA EM SANTA MARIA COM MISSA NA PRAÇA SALDANHA MARINHO
Na quarta-feira de cinzas, neste ano dia 13 de fevereiro, como tradicionalmente
acontece, é lançada a Campanha da Fraternidade que se estende por todo período
da Quaresma.
Neste ano o lançamento da Campanha 2013 que tem como Tema: Fraternidade e Juventude e como Lema: Eis-me aqui, envia-me. (Is 6,8) será feita na Praça Saldanha Marinho, às 20h. A Missa contará com a presença do Arcebispo de Santa Maria, Dom Hélio Adelar Rubert e contará com a distribuição das Cinzas.
Neste ano o lançamento da Campanha 2013 que tem como Tema: Fraternidade e Juventude e como Lema: Eis-me aqui, envia-me. (Is 6,8) será feita na Praça Saldanha Marinho, às 20h. A Missa contará com a presença do Arcebispo de Santa Maria, Dom Hélio Adelar Rubert e contará com a distribuição das Cinzas.
4ª Reunião Ampliada Nacional das CEBs
Encontro, que foi concluído no último dia 27 de janeiro de 2013 em Crato (CE), faz parte dos preparativos para o 13º Intereclesial, marcado para janeiro de 2014 em Juazeiro do Norte. Os participantes publicaram uma carta, dirigida às Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), que reproduzimos a seguir:
CARTA DA 4º AMPLIADA NACIONAL DE CEBs
Miriam, a profetisa tomou nas mãos um tamborim
e todas as mulheres a seguiram com tamborins,
formando coros de danças.
E Miriam lhe entoava:
“Cantai a Javé, pois de gloria se vestiu!”
(Ex 15,20-21)
e todas as mulheres a seguiram com tamborins,
formando coros de danças.
E Miriam lhe entoava:
“Cantai a Javé, pois de gloria se vestiu!”
(Ex 15,20-21)
Romeiros e romeiras do Reino do campo e da cidade viemos aqui, de todos os recantos do Brasil, para IV Ampliada Nacional de Comunidades Eclesiais de Bases (CEBs), no Vale do Cariri coração do nordeste. Como o povo respondeu ao chamado de Miriam, que convidava a dançar ao Deus na vida, assim nós, respondemos ao chamado do Deus da esperança que anima o trem das CEBs rumo ao 13º Intereclesial.
É com muita alegria que convidamos você a entrar neste cordão da dança, que se realizará de 07 a 11 de janeiro de 2014, em Juazeiro do Norte, Diocese de Crato, Ceará.
Como o tamborim de Miriam convocou o povo, nos sentimos convocadas e convocados ao ritmo alegre da sanfona para dançar a justiça e profecia a serviço da vida, como resposta aos gritos de dor provocados pelos projetos que signifiquem sinais de morte para o nosso povo, que estão sendo implantados em todo Brasil.
Nesta ultima ampliada num clima de profunda mística, olhamos a realidade que desafia a vida em plenitude do nosso povo. Alegramo-nos com a partilha do trem das CEBs, que passa em cada comunidade, diocese e regional. Lá, onde os vagões das CEBs passam, reacende a chama da esperança na realização da sociedade do bem viver e do bem conviver, em comunhão com todas as CEBs da grande Pátria, América Latina e Caribe.
Como é próprio da nossa caminhada de igreja compartilhamos os novos trilhos que estão sendo postos, através do serviço das diversas equipes, para que o trem das CEBs chegue à estação do Ceará, debaixo do chapéu de padre Cicero, no calor do grande caldeirão, das lutas, culturas, sonhos e esperanças para vivenciarmos a grande proposta do Reino que já se faz presente.
Já sentimos o gostinho desta festa no lançamento do Texto base e das Cartilhas na Casa da Mãe das Dores e das Alegrias, que no decorrer destes anos tem acolhido romeiros e romeiras que aqui vem; como também, saboreamos o prazer da preparação das diversas famílias, paroquias e comunidades que acolherão os delegados e delegadas.
Herdeiras e herdeiros das grandes lutas populares pela libertação como o foram Palmares, Canudos e Caldeirão, somos hoje convocados e convocadas pela firmeza da fé dos beatos e beatas do povo de Deus, Antônio Conselheiro, Maria de Araújo e José Lourenço, pelo amor à justiça e vida do padre Ibiapina e padre Cicero.
Não perca o trem se prepare e vem também! O trem tem datas e horários marcados: até 31 de maio 2013 confirme o seu “bilhete” - ficha de inscrição.
Sob o olhar maternal e solidário da Mãe das Dores e das Alegrias acolhemos sua benção para que nossos passos sejam firmes como foram os dela.
Um abraço amoroso de toda Equipe da Ampliada Nacional das CEBs
Amén, Axé, Auere, Oxente, Aleluia!
Dom Damasceno recebe texto base do 13º Intereclesial
Durante a reunião do Consep nesta quarta-feira, 06 de fevereiro, o presidente da Comissão Episcopal Pastoral para o Laicato, dom Severino Clasen, entregou ao presidente da CNBB, cardeal Raymundo Damasceno Assis, o texto-base do 13º Intereclesial das CEBs, que será realizado de 7 a 11 de janeiro de 2014, em Juazeiro do Norte, diocese do Crato (CE).
O documento foi lançado oficialmente durante a 4ª Reunião da Ampliada Nacional, no último dia 25 de janeiro no salão dos romeiros em Juazeiro do Norte (CE). O tema desta Intereclesial será “Justiça e Profecia a serviço da Vida” e o lema: “CEBs, romeiras do reino no campo e na cidade”. O texto já está disponível no secretariado do 13º Intereclesial em Crato. Foi lançada também a cartilha em versão popular para os círculos bíblicos e grupos de reflexão.
quinta-feira, 24 de janeiro de 2013
Arquidiocese do Rio promove evento de reflexões sobre o Ano da Fé e a JMJ Rio2013
Com o objetivo de vivenciar o Ano da Fé, a arquidiocese do Rio de Janeiro juntamente com o Comitê Organizador Local (COL) da Jornada Mundial da Juventude (JMJ Rio2013), vai realizar no dia 2 de fevereiro, a partir das 17h, na Concha Acústica do Santuário de Nossa Senhora da Penha, o evento “Caminho de Luz”.
O arcebispo do Rio, dom Orani João Tempesta, presidirá a Celebração Eucarística e a animação ficará por conta do reitor do Santuário Arquidiocesano do Cristo Redentor, padre Omar Raposo. De acordo com o produtor do evento, Michel Sousa, haverá também momentos de oração, louvor e testemunhos sobre fé e sobre a importância de acolher um peregrino e ser um voluntário dentro da Jornada Mundial da Juventude.
Dentro do evento será realizada uma procissão com velas que, após a Missa, iluminará toda a escadaria do Santuário, que fica localizado no Largo da Penha, 19 – Penha.
Membros do Comitê Local da JMJ Rio 2013 se encontram em Roma para reuniões com autoridades do Vaticano
Uma comitiva de membros do Comitê Organizador Local (COL) da JMJ Rio 2013, liderada pelo seu presidente e arcebispo do Rio dom Orani João Tempesta, chegou a Roma no último dia 9 e de janeiro e regressará ao Brasil no dia 25. A programação envolve reuniões e entrevistas, entre outras atividades, com temas ligados à liturgia, comunicação, segurança e a todos os atos celebrativos que envolvem o Papa e um encontro o Cardeal Rylko, presidente do Pontifício Conselho para os Leigos.
Integram a comitiva: monsenhor Joel Portella Amado, secretário-executivo; dom Paulo Cezar, vice-presidente do COL; dom Antônio Augusto Dias Duarte, vice-presidente do COL; padre Márcio Queiroz, diretor do Setor de Comunicação; padre Leandro Lenim, diretor do Setor de Preparação Pastoral; padre Arnaldo Rodrigues, diretor do Setor de Preparação Pastoral; padre Renato Martins, diretor do Setor de Atos Centrais; Gustavo Ribeiro, gerente do Setor de Atos Culturais.
Segundo a assesoria de imprensa da Jornada à ACI Digital, a ida do COL a Roma tem como objetivo definir toda a programação da JMJ, as atividades em que o Papa Bento XVI estará presente. O que for decidido nessas reuniões será a decisão final.
Diariamente são feitas reuniões do Comitê interno para reunir os materiais que serão apresentados. Também acontecem reuniões com Pontifício Conselho para os Leigos (PCL) e com as esferas públicas. Em tais encontros, se discute temas ligados à liturgia, comunicação, segurança, atos que envolvem o Papa e toda organização. Também haverá uma reunião com o cardeal Stanislaw Rylko, presidente do PCL, para apresentar como está a organização da JMJ. Espera-se que membros do PCL venham ao Rio antes da JMJ.
segunda-feira, 21 de janeiro de 2013
Tem início o Curso de Atualização em Liturgia
Teve início em São Paulo (SP), do dia 3 a 25 de janeiro, o Curso de Atualização em Liturgia, promovido pelo Centro de Liturgia Dom Clemente Isnard, com o apoio da Comissão Episcopal Pastoral para a Liturgia da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). O evento conta com a participação de agentes de Pastoral Litúrgica do Amazonas, São Paulo, Minas Gerais, Santa Catarina, Espírito Santo, Rio de Janeiro e Paraná.
A finalidade do curso é construir um saber teológico-litúrgico focado na partilha e na busca de caminhos para a liturgia no Brasil, à luz da renovação proposta pelo Concílio Vaticano II e outros pronunciamentos do magistério da Igreja, em particular na América Latina.
Segundo irmã Veronice Fernandes, uma das coordenadoras do curso, a inspiração para a realização do curso foram as comemorações do Concílio Vaticano II. “Neste ano da comemoração do jubileu da Sacrosanctum Concilium é um dom poder dedicar tempo para a formação litúrgica, tão desejada pelo Concílio Vaticano II”.
Para Alex Lopes Figueira, da diocese de Cachoeiro de Itapemirim (ES), os participantes vivenciam os ofícios e as experiências oferecidas pelos assessores à luz da Sacrosanctum Concilium e das referências bíblicas, procurando aprofundar o sentido que a liturgia nos oferece nas mais diferentes formas de expressão. “De fato, a formação vem ao encontro a todas as nossas lideranças, trazendo profundas contribuições para o crescimento e o fortalecimento de nossas comunidades”, destacou.
“O curso de Atualização tem sido, até o presente momento, uma grande referência em todos os aspectos e dimensões litúrgicas. Uma baliza para tantas dioceses que buscam uma inteireza litúrgica para suas lideranças na atualidade”, afirmou a participante Marinês Bressan Frandolozo, de Santa Catarina.
Já para o frei Carlos Eduardo Fernandes, a importância de estar num curso como este é perceber o quanto “devemos, sempre, estar em função da verdadeira liturgia da Igreja. Isto deve acontecer para que Cristo apareça sempre e todo fiel se reúna em comunidade para celebrar com Cristo para se cristificar e viver como Ele em sua vida cristã!”, concluiu.
Refugiados e imigrantes: um desafio humanitário. Entrevista especial com Paulo Welter
“O refúgio já é muito antigo e vem acompanhado com sentimento de dor. Pois, quando uma pessoa é forçada a deixar a sua pátria ela carrega consigo o sentimento de dor e o desejo de regressar”, aponta o irmão jesuíta.
Confira a entrevista.
“No mundo globalizado jamais será possível entender a existência de pessoas refugiadas. Falta globalizar o ser humano. Mas isso será muito difícil, uma vez que, nesse processo de globalização, faltam valores éticos necessários no relacionamento de respeito entre as pessoas”. A declaração é do missionário e irmão jesuíta, Paulo Welter, que durante seis anos atuou no Serviço Jesuíta aos Refugiados, em Angola.
Na entrevista a seguir, concedida por e-mail à IHU On-Line, Welter relata sua experiência juntos dos refugiados africanos e dos imigrantes haitianos, no Brasil. Após retornar de Angola, o irmão jesuíta participou do projeto Pró-Haiti, uma iniciativa dos jesuítas brasileiros para dar apoio aos haitianos que chegam ao país. Ao avaliar essas iniciativas, ele é enfático: “A vida é feita de desafios e buscas de melhores condições para se viver. Para os imigrantes e refugiados, estes desafios sempre são urgentes e quase imediatos, pois a vida está em perigo e precisam encontrar uma solução. As organizações internacionais e nacionais apontam como desafio a possibilidade de proporcionar soluções duradouras e projetos que ofereçam oportunidades aos migrantes e refugiados. Dar comida é algo imediato e, em muitos casos, é disso o que mais necessitam tais pessoas. Mas não se pode dar comida por muito tempo, especialmente quando a demanda é grande. Encontrar atividades e projetos com soluções duradoras é, portanto, o grande desafio”.
Paulo Welter é graduado em Ciências Jurídicas pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos, assessor do projeto Pró-Haiti e de 2008 a 2011 foi diretor nacional do Serviço Jesuita aos Refugiados - SJR -, em Angola.
Confira a entrevista.
IHU On-Line – Como define a questão dos refugiados no mundo?
Paulo Welter – Foi a partir do início do século XX que os refugiados no mundo receberam atenção da comunidade internacional e, por questões humanitárias, o mundo inteiro resolveu prestar assistência e proteção. De acordo com a legislação, os refugiados são classificados segundo a sua origem, nacionalidade e ficaram desprovidos de proteção por parte de seu país.
O mundo está cada vez mais globalizado e as pessoas circulam com mais facilidade de um país para outro, ou seja, as fronteiras quase perderam o seu sentido em relação a uma sociedade globalizada e quando pensamos como seres humanos com os mesmos direitos em todo o mundo. Com certeza os refugiados provocam muitas inquietudes diante da legislação em vigor em certos países que se “protegem” impedindo e ou negando a dignidade de vida ao seu irmão e semelhante. Pois estas pessoas apenas têm uma opção: proteger suas vidas em outro país uma vez que o seu não mais garante a mínima proteção e os direitos básicos de vida. Em outras palavras, o refúgio já é muito antigo e vem acompanhado do sentimento de dor. Isso porque, quando uma pessoa é forçada a deixar a sua pátria, ela carrega consigo o sentimento de dor e o desejo de regressar. Muito bem foi definido por Eurípedes, 431 a.C.: “Não tem maior dor no mundo que a perda da sua terra natal”.
IHU On-Line – Quais são as principais causas que fazem as pessoas abandonarem seus países de origem?
Paulo Welter – As principais causas são provenientes quando o Estado não dá ou já não consegue mais dar proteção ao seu povo. Geralmente, originados nos países por conflitos internos, tais como guerra, perseguição política, racial, de gênero, fome e por desastre da natureza.
IHU On-Line – Trata-se de um problema político internacional?
Paulo Welter – Nem sempre podemos dizer se tratar de um problema político internacional, pois os países ricos e influentes no mundo restringem a entrada de refugiados e tratam as pessoas como não globalizadas. Eles apenas têm interesse nos lucros e nos negócios internacionais. Normalmente, os países que “produzem” refugiados são proprietários de riquezas naturais, tendo um governo politicamente sem capacidade de gerir suas riquezas, seu povo, além de serem pouco democráticos. Nesse contexto, os países influentes no mundo conseguem dominar e explorar as riquezas dos países subdesenvolvidos ou mesmo miseráveis. A comunidade internacional, através da ONU e de outras organizações, vem há muitos anos desenvolvendo projetos de ajuda humanitária. Graças a Deus que existem tais organizações.
IHU On-Line – É possível estimar a atual população de refugiados no mundo? Em quais países eles mais se concentram?
Paulo Welter – Talvez seja necessário fazer uma pesquisa sobre a população atual de refugiados no mundo. África é o continente com mais refugiados e deslocados internos. Depois vem a região da Síria e Ásia.
Normalmente, deslocados internos também são tratados como refugiados, o que eleva este número. No aspecto legal e jurídico, apenas pode ser chamado refugiado aquele que é beneficiário do Estatuto de Refugiado. Isso porque um requerente de asilo é uma pessoa com expectativa de se beneficiar deste documento e, certamente, é o requerente de asilo quem mais sofre. Isso acontece devido ao fato de que ele está chegando a um novo país e lhe falta tudo: alimentação, moradia, dignidade. Necessita se adaptar a uma nova cultura, língua e legislação de outro país, sem acesso à saúde e à educação dos seus filhos. Além do mais, vivendo momentos difíceis de adaptação e muitas vezes sendo vítimas dos abusos e desrespeito da sua dignidade. Em outras palavras, precisa ser um herói para sobreviver.
Uma vez beneficiário do Estatuto de Refugiado, a vida começa a melhorar por serem portadores de documentos, podendo iniciar uma vida nova. Psicologicamente, sentem-se melhores acolhidos e, assim, se integram no país de acolhimento. Contudo, os refugiados historicamente, e ainda hoje, continuam sendo vistos como uma massa sobrante de pessoas em qualquer parte do mundo. É uma verdade e uma realidade que não podemos esconder e sim trabalhar cada vez mais para que todas as classes sociais da sociedade tomem conhecimento, e que um dia um novo horizonte venha a despontar na vida das pessoas refugiadas. Esperamos que um dia tudo isso seja passageiro, mantendo viva sempre a chama do retorno ao seu país, ou então a integração definitiva no país de acolhimento.
IHU On-Line – Como é desenvolvido o Serviço Jesuíta aos Refugiados no mundo?
Paulo Welter – O Serviço Jesuíta aos Refugiados – (JRS, a sigla em inglês) é desenvolvido através de seu Escritório Internacional com sede em Roma, e mais 10 Escritórios Regionais (África = 5; Ásia = 2; Europa = 1; América = 2) e com Escritórios Nacionais em 50 países.
O JRS foi fundado em novembro de 1980 pelo superior Geral dos Jesuítas, Pe. Pedro Arrupe, como sendo uma organização internacional da Igreja Católica. Tem como missão acompanhar, servir e defender as pessoas deslocadas internamente, em particular os refugiados. Segue os princípios da missão dos jesuítas no mundo de promover a justiça, o diálogo com outras culturas e religiões.
IHU On-Line – Qual o papel das Igrejas para com os refugiados, repatriados e deslocados?
Paulo Welter – As Igrejas vêm, ao longo de muitos anos, auxiliando no acolhimento dos refugiados e imigrantes, pois uma das maiores dificuldades que estas pessoas enfrentam é o acolhimento, e, logo em seguida, dificuldades de fazer os encaminhamentos junto às autoridades do governo para conseguir seus documentos. Devido ao medo e à insegurança, sem conhecer primeiramente ninguém, são nas Igrejas que tais pesssoas estabelecem o primeiro vínculo de confiança.
Em suas trajetórias de fuga, alguns chegaram ao seu destino e encontram em Deus a força e a segurança para continuar acreditar em dias melhores. Por mais que alguém se diga ateu, na hora do perigo, se lembra de um ser superior chamado Deus. Também as Igrejas dão muita credibilidade, e com mais facilidade é possível promover campanhas de ajuda. As Igrejas têm boas lideranças que se colocam à disposição para ajudar nos serviços de acolhimento. Por parte do governo, esse processo sempre é mais demorado, e são as Igrejas que iniciam e promovem a rede de solidariedade.
IHU On-Line – Como o tema é abordado pela comunidade internacional? Em que países a situação dos refugiados é mais complicada?
Paulo Welter – A comunidade internacional, através da ONU e especialmente pelo Alto Comissário das Nações Unidas para Refugiados – ACNUR, trata estes temas com muita seriedade, pois afetam a segurança mundial. Ela procura manter o controle sobre as crises humanitárias no mundo.
Os países mais complicados no momento me parecem ser os do Oriente Médio, como a Síria, e na África, o leste da República Democrática do Congo, na região do Kivu Norte.
IHU On-Line – Como podemos perceber o “rótulo” de refugiado em tempos de globalização?
Paulo Welter – No mundo globalizado jamais será possível entender a existência de pessoas refugiadas. Falta globalizar o ser humano. Mas isso será muito difícil, uma vez que, nesse processo de globalização, faltam valores éticos necessários no relacionamento de respeito entre as pessoas. Parece-me ser muito difícil a globalização sem valores humanos e sem união entre as pessoas. Assim sendo, o “rótulo” continuará nas pessoas refugiadas, muitas vezes vistas e reconhecidas como sem valor, como a massa sobrante da sociedade. Devemos nos preocupar em mudar este tratamento e proporcionar aos refugiados dignidade como pessoas com valores. Certamente eles têm muito para contribuir com seus conhecimentos e cultura no país de acolhida. Tudo isso é um processo que deverá constantemente ser tratado por parte das autoridades, agentes e pessoas que se dedicam à causa dos refugiados no sentido de fazer com que a sociedade mude o seu procedimento ou o comportamento em relação aos refugiados, atribuindo-lhes valores. Se um dia isso acontecer, poderíamos dizer que a humanidade e os povos estão globalizados.
IHU On-Line – Como foi sua experiência no Serviço Jesuíta aos Refugiados em Angola?
Paulo Welter – O trabalho em Angola e com o JRS foi muito marcante na minha vida; com ele aprendi a ser mais solidário e a partilhar a vida. Encontrei pessoas boas, próximas e amigas. Sempre fui bem tratado por todos e pelas autoridades do governo de Angola. Em poucas palavras, posso afirmar que foram seis anos especiais em minha. Conheci um pouco do continente africano, sua cultura e seu povo. Guardo com muito carinho todas as pessoas com quem partilhei a vida. Apenas sei que Angola e África marcaram a minha vida e sou grato por esta oportunidade que tive.
IHU On-Line – Qual a atual situação dos refugiados na Angola?
Paulo Welter – Angola tem uma história muito interessante em relação aos refugiados. Em primeiro lugar, mesmo durante os anos de guerra civil, proporcionou acolhimento e refúgio para inúmeros africanos de outros países, como do Congo, Ruanda, Costa do Marfim, Serra Leoa e outros.
Outro fator positivo é que em Angola os refugiados não foram colocados em campos de refugiados, e sim foram integrados na sociedade angolana. Em alguns casos foram criadas comunidades de refugiados, mas livres e abertas, sem controle, o que ocorre nos campos de refugiados. Isso dá mais dignidade a eles e ajuda na integração no novo país.
Brasil e Angola
Com a vinda da paz definitiva em 2002, Angola está avançado muito na questão de legislação e documentação para os refugiados, buscando integrar os que escolhem seu território como local para refúgio. Ele tem proporcionado acesso à saúde, à escola, à documentação. Dentro das suas possibilidades, oferece vida digna. Em Angola a língua oficial é o português e seu povo pode ser considerado “primo” dos brasileiros. Brasil e Angola mantêm constante troca de experiências sobre como melhorar a legislação e o tratamento dos refugiados. Ele é um exemplo para muitos países africanos referente ao acolhimento e refúgio, e vem se destacando como um país de refência em relaçãos aos refugiados no continente africano.
O Serviço Jesuíta aos Refugiados – JRS continua a sua missão em Angola e oferece diversas atividades de formação, educação, microcrédito, atividades contra a violência, assessoria jurídica etc. Todas elas são desenvolvidas em parceria com o ACNUR, com outras ONGs e com o governo local. O JRS é considerado uma referência muito importante para os requerentes de asilo, refugiados e autoridades.
IHU On-Line – Com seu retorno ao Brasil, como surgiu a ideia de criar o Projeto Pró-Haiti?
Paulo Welter – A criação do Projeto Pró-Haiti surgiu a partir do grande número de imigrantes haitianos que vinha chegado a cada semana de Tabatinga para Manaus, na Igreja São Geraldo. Esta migração se deu logo após o terremoto em 2010, e a Pastoral do Migrante da Arquidiocese de Manaus, sob a coordenação das irmãs scalabrinianas e dos padres scalabrinianos da Igreja São Geraldo – auxiliados por outras congregações religiosas e o povo amazonense –, prestou os primeiros atendimentos de acolhimento, o que incluía principalmente alimentação e moradia. Quero ressaltar o importante trabalho das autoridades do governo que proporcionaram a documentação, como o CPF e a Carteira de Trabalho. Destacaram-se a Polícia Federal e o Ministério do Trabalho. Logo que os haitianos tinham sua documentação, muitas empresas contrataram de imediato esta mão de obra, principalmente na construção civil na cidade de Manaus. Em seguida despertou o interesse de muitos empregadores de São Paulo e do sul do Brasil, que contrataram trabalhadores haitianos.
Pró-Haiti
Como a demanda era muito grande e a Igreja São Geraldo não conseguia vencer todos os atendimentos, os jesuítas resolveram somar forças e criaram o projeto Pró-Haiti em fevereiro de 2012. Até esta data os jesuítas na região amazônica não tinham quase nenhuma participação concreta. Eu pessoalmente participava das reuniões da Pastoral do Migrante e pouco poderia fazer de concreto por parte dos jesuítas, uma vez que falta definir o que e como integraríamos a “rede de solidariedade em favor dos imigrantes haitianos” na região amazônica e Brasil.
Após uma reunião, ficou estabelecido que o Pró Haiti auxiliaria não no acolhimento, mas sim na área profissional e no encaminhamento da documentação junto às autoridades, oferecendo aulas de português, assessoria jurídica, artesanato, banda de música, tradução de crioulo para português. Este último era particularmente necessário porque poucos haitianos falavam ou entendiam português.
Portanto, foi assim que surgiu o projeto Pró Haiti: para somar forças e prestar um trabalho profissional e específico. A equipe é integrada com pessoas qualificadas em atender às necessidades dos haitianos, e se tornou um espaço de encontro e partilha dos seus sofrimentos e anseios de vencer na vida.
IHU On-Line – Como tem sido a aceitação do projeto por parte da Igreja e que tipo de apoio tem recebido dela?
Paulo Welter – O projeto Pró-Haiti, por parte da Igreja Católica e outras Igrejas, foi e continua sendo um projeto de respeito por conduzir de forma profissional, ética e transparente as suas atividades e missão. Para isso, é fundamental ter uma equipe com a devida qualificação e que faça o trabalho com amor e compaixão, ou seja, sempre se colocando nos sapatos do haitiano que está longe de sua terra natal e necessita de pessoas que realmente orientem de acordo com a legislação brasileira. A Igreja Católica, através da Caritas, dos scalabrinianos, dos capuchinhos e de outras congregações de freiras, demostrou o melhor carinho por este projeto.
A Igreja de Manaus proporciou apoio financeiro através da Caritas Diocesana e dos jesuítas do sul do Brasil. O superior geral dos Jesuítas, sediado em Roma, também proporcionou ajuda financeira. Igualmente recebemos mais apoio de um doador espontâneo, de São Paulo, e um de um grupo de italianos, que fizeram campanhas de roupas e enviaram alguns valores.
IHU On-Line – Qual o significado desse trabalho para os imigrantes, que muitas vezes chegam aqui no Brasil sem perspectivas e sofrem muita discriminação?
Paulo Welter – Esta pergunta deveria ser respondida por algum haitiano. Mas sei o que os haitianos partilharam no Escritório do Pró-Haiti. Vinham e agradeciam pela assistência recebida e afirmaram inúmeras vezes que não saberiam como seria a vida deles se não tivessem recebido o apoio jurídico e o auxílio para o encaminhamento de seus documentos. O Pró-Haiti se tornou um segundo lar para eles. Um lugar para partilhar a vida e resolver os problemas de forma profissional nas mais diversas áreas. Encontram sempre no Pró-Haiti um ombro amigo e seguro.
IHU On-Line – Três anos depois do terremoto que atingiu o Haiti, como o senhor vê a postura do Brasil em relação aos imigrantes?
Paulo Welter – O Brasil, como mais alguns países, tem uma postura positiva e inovadora em relação aos imigrantes haitianos, vítimas do terremoto. O Brasil foi obrigado a atender uma demanda de imigrantes haitianos sem a devida legislação. Os haitianos simplesmente resolveram migrar para Brasil de diversas formas, em busca de melhores condições de vida. Tabantinga e Manaus foram as cidades que mais receberam haitianos no país, seguidas de Brasileia, no Acre.
O Ministério da Justiça, através do Conare, da Polícia Federal e do Ministério do Trabalho e Emprego, encontrou uma solução importante no sentido de proporcionar a documentação necessária para que os haitianos vivessem e trabalhassem legalmente no Brasil; isso se deu mediante o visto humanitário. Está decisão possibilitou a contratação de muitos imigrantes, gerando oportunidade para eles e para as empresas.
IHU On-Line – O senhor trabalhou com os haitianos que chegaram ao país nos últimos dois anos, através do projeto Pró-Haiti. Como ocorreu o ingresso deles no Brasil e o que relatam sobre a atual situação do seu país de origem?
Paulo Welter – Inicialmente, o ingresso dos imigrantes haitianos no Brasil foi quase todo feito de forma ilegal. Mas eles se apresentaram às autoridades solicitando o refúgio. Num primeiro momento, as autoridades brasileiras não estavam preparadas e tampouco havia uma legislação que orientasse a Polícia Federal como proceder. A grande dúvida era se classificavam os haitianos como refugiados ou imigrantes.
Em janeiro de 2012, o Ministério da Justiça resolveu legalizar todos os haitianos que estavam no Brasil, na intenção de impedir o tráfico de pessoas através de redes organizadas internacionalmente. Mesmo assim, continuaram entrando haitianos em Brasileia, no Acre, e Tabatinga, no Amazonas. O Brasil novamente cedeu, em virtude da ajuda humanitária, e legalizou estes imigrantes haitianos. Os vistos aos haitianos que desejam migrar para o Brasil são concedidos somente pela Embaixada do Brasil no Haiti, com um limite de 100 vistos por mês. No momento, esta regra também já não é mais considerada, e os vistos podem ser superiores a 100 por mês e tais adaptações se fazem necessários na legislação.
IHU On-Line – Muitos haitianos, após chegarem ao Amazonas e Acre, imigraram para outros estados, entre eles o Rio Grande do Sul. Qual a situação deles no estado e em que regiões estão localizados?
Paulo Welter – Os haitianos, após terem sua documentação para trabalhar, migraram para outras regiões do Brasil. Entre estas se destacam São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
No Rio Grande do Sul, podemos encontrar haitianos quase em todas as cidades, graças à divulgação dos meios de comunicação, que despertaram a sensibilidade e o interesse de empresas do sul. No estado, os haitianos moram em Estrela, Lajeado, Encantado, Marau, Paraí. Há um bom número de imigrantes trabalhando em diversas outras cidades da serra gaúcha, como também em Sarandi, Igrejinha e Gravataí. É importante destacar ainda que o Rio Grande do Sul deu um passo importante através do governo, no sentido de criar o Fórum Permanente no final do ano de 2012, que envolve a sociedade civil e o governo.
IHU On-Line – Quais os desafios para pensar a questão dos imigrantes e dos refugiados nos dias de hoje?
Paulo Welter – A vida é feita de desafios e buscas de melhores condições para se viver. Para os imigrantes e refugiados estes desafios sempre são urgentes e quase imediatos, pois a vida está em perigo e precisam encontrar uma solução. As organizações internacionais e nacionais apontam como desafio a possibilidade de proporcionar soluções duradouras e projetos que ofereçam oportunidades aos migrantes e refugiados. Dar comida é algo imediato e, em muitos casos, é disso o que mais necessitam tais pessoas. Mas não se pode dar comida por muito tempo, especialmente quando a demanda é grande. Encontrar atividades e projetos com soluções duradoras é, portanto, o grande desafio.
IHU On-Line – Qual a relação entre direitos humanos e refugiados? O que diz a legislação internacional para com as populações de refugiados e repatriados?
Paulo Welter – Os direitos humanos e refugiados têm uma relação muito próxima, pois a vida de seres humanos, no caso os refugiados, tem seus princípios fundamentais violados ou ameaçados.
A legislação internacional é clara em relação aos refugiados e repatriados. Podemos afirmar que ela foi bem elaborada. Porém, difícil é cumprir esta legislação. Sempre se depende de muitos outros fatores não previstos nela, tais como o afeto à sua família e à pátria, imprevistos e novos conflitos, a questão financeira, o acesso à terra, ao trabalho, à documentação etc. Por isso os envolvidos que trabalham diretamente com uma população refugiada precisam ter qualificação para trabalhar de maneira criativa, atendendo às necessidades dos refugiados e repatriados.
IHU On-Line – Deseja acrescentar algo?
Paulo Welter – Com o expressivo número de haitianos no sul do Brasil, e a necessidade constante de renovação de seus passaportes, eles precisam de orientações concretas sobre encaminhamentos de documentos via consulado e ou Embaixada. É preciso defender seus direitos e proporcionar uma vida mais digna e segura.
Na cidade de Feliz foi atropelado um haitiano que morreu na hora ao ser atingido por um motorista brasileiro bêbado. Ele foi enterrado em Feliz, mas quem acompanha seus dois filhos no Haiti e o processo de crime no Brasil? Como fica tudo isso? A maioria dos haitianos homens que está no Brasil deixou sua esposa e filhos no país de origem, e agora desejam fazer a unificação familiar, direito previsto aos haitianos na legislação. Todavia, não há assistência e os encaminhamentos são feitos em São Paulo ou Brasília. Por isso, proponho que, urgentemente, seja instalado no Rio Grande do Sul um subescritório consular do Haiti para atender à demanda dos imigrantes que vivem aqui.
Por último, foi e continua sendo muito bom poder ajudar os imigrantes haitianos no Brasil, e gostaria de agradecer a todas as pessoas e empresas que ajudam, formando assim uma grande rede de solidariedade e proporcionando dignidade ao povo haitiano.
Confira a entrevista.
“No mundo globalizado jamais será possível entender a existência de pessoas refugiadas. Falta globalizar o ser humano. Mas isso será muito difícil, uma vez que, nesse processo de globalização, faltam valores éticos necessários no relacionamento de respeito entre as pessoas”. A declaração é do missionário e irmão jesuíta, Paulo Welter, que durante seis anos atuou no Serviço Jesuíta aos Refugiados, em Angola.
Na entrevista a seguir, concedida por e-mail à IHU On-Line, Welter relata sua experiência juntos dos refugiados africanos e dos imigrantes haitianos, no Brasil. Após retornar de Angola, o irmão jesuíta participou do projeto Pró-Haiti, uma iniciativa dos jesuítas brasileiros para dar apoio aos haitianos que chegam ao país. Ao avaliar essas iniciativas, ele é enfático: “A vida é feita de desafios e buscas de melhores condições para se viver. Para os imigrantes e refugiados, estes desafios sempre são urgentes e quase imediatos, pois a vida está em perigo e precisam encontrar uma solução. As organizações internacionais e nacionais apontam como desafio a possibilidade de proporcionar soluções duradouras e projetos que ofereçam oportunidades aos migrantes e refugiados. Dar comida é algo imediato e, em muitos casos, é disso o que mais necessitam tais pessoas. Mas não se pode dar comida por muito tempo, especialmente quando a demanda é grande. Encontrar atividades e projetos com soluções duradoras é, portanto, o grande desafio”.
Paulo Welter é graduado em Ciências Jurídicas pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos, assessor do projeto Pró-Haiti e de 2008 a 2011 foi diretor nacional do Serviço Jesuita aos Refugiados - SJR -, em Angola.
Confira a entrevista.
IHU On-Line – Como define a questão dos refugiados no mundo?
Paulo Welter – Foi a partir do início do século XX que os refugiados no mundo receberam atenção da comunidade internacional e, por questões humanitárias, o mundo inteiro resolveu prestar assistência e proteção. De acordo com a legislação, os refugiados são classificados segundo a sua origem, nacionalidade e ficaram desprovidos de proteção por parte de seu país.
O mundo está cada vez mais globalizado e as pessoas circulam com mais facilidade de um país para outro, ou seja, as fronteiras quase perderam o seu sentido em relação a uma sociedade globalizada e quando pensamos como seres humanos com os mesmos direitos em todo o mundo. Com certeza os refugiados provocam muitas inquietudes diante da legislação em vigor em certos países que se “protegem” impedindo e ou negando a dignidade de vida ao seu irmão e semelhante. Pois estas pessoas apenas têm uma opção: proteger suas vidas em outro país uma vez que o seu não mais garante a mínima proteção e os direitos básicos de vida. Em outras palavras, o refúgio já é muito antigo e vem acompanhado do sentimento de dor. Isso porque, quando uma pessoa é forçada a deixar a sua pátria, ela carrega consigo o sentimento de dor e o desejo de regressar. Muito bem foi definido por Eurípedes, 431 a.C.: “Não tem maior dor no mundo que a perda da sua terra natal”.
IHU On-Line – Quais são as principais causas que fazem as pessoas abandonarem seus países de origem?
Paulo Welter – As principais causas são provenientes quando o Estado não dá ou já não consegue mais dar proteção ao seu povo. Geralmente, originados nos países por conflitos internos, tais como guerra, perseguição política, racial, de gênero, fome e por desastre da natureza.
IHU On-Line – Trata-se de um problema político internacional?
Paulo Welter – Nem sempre podemos dizer se tratar de um problema político internacional, pois os países ricos e influentes no mundo restringem a entrada de refugiados e tratam as pessoas como não globalizadas. Eles apenas têm interesse nos lucros e nos negócios internacionais. Normalmente, os países que “produzem” refugiados são proprietários de riquezas naturais, tendo um governo politicamente sem capacidade de gerir suas riquezas, seu povo, além de serem pouco democráticos. Nesse contexto, os países influentes no mundo conseguem dominar e explorar as riquezas dos países subdesenvolvidos ou mesmo miseráveis. A comunidade internacional, através da ONU e de outras organizações, vem há muitos anos desenvolvendo projetos de ajuda humanitária. Graças a Deus que existem tais organizações.
IHU On-Line – É possível estimar a atual população de refugiados no mundo? Em quais países eles mais se concentram?
Paulo Welter – Talvez seja necessário fazer uma pesquisa sobre a população atual de refugiados no mundo. África é o continente com mais refugiados e deslocados internos. Depois vem a região da Síria e Ásia.
Normalmente, deslocados internos também são tratados como refugiados, o que eleva este número. No aspecto legal e jurídico, apenas pode ser chamado refugiado aquele que é beneficiário do Estatuto de Refugiado. Isso porque um requerente de asilo é uma pessoa com expectativa de se beneficiar deste documento e, certamente, é o requerente de asilo quem mais sofre. Isso acontece devido ao fato de que ele está chegando a um novo país e lhe falta tudo: alimentação, moradia, dignidade. Necessita se adaptar a uma nova cultura, língua e legislação de outro país, sem acesso à saúde e à educação dos seus filhos. Além do mais, vivendo momentos difíceis de adaptação e muitas vezes sendo vítimas dos abusos e desrespeito da sua dignidade. Em outras palavras, precisa ser um herói para sobreviver.
Uma vez beneficiário do Estatuto de Refugiado, a vida começa a melhorar por serem portadores de documentos, podendo iniciar uma vida nova. Psicologicamente, sentem-se melhores acolhidos e, assim, se integram no país de acolhimento. Contudo, os refugiados historicamente, e ainda hoje, continuam sendo vistos como uma massa sobrante de pessoas em qualquer parte do mundo. É uma verdade e uma realidade que não podemos esconder e sim trabalhar cada vez mais para que todas as classes sociais da sociedade tomem conhecimento, e que um dia um novo horizonte venha a despontar na vida das pessoas refugiadas. Esperamos que um dia tudo isso seja passageiro, mantendo viva sempre a chama do retorno ao seu país, ou então a integração definitiva no país de acolhimento.
IHU On-Line – Como é desenvolvido o Serviço Jesuíta aos Refugiados no mundo?
Paulo Welter – O Serviço Jesuíta aos Refugiados – (JRS, a sigla em inglês) é desenvolvido através de seu Escritório Internacional com sede em Roma, e mais 10 Escritórios Regionais (África = 5; Ásia = 2; Europa = 1; América = 2) e com Escritórios Nacionais em 50 países.
O JRS foi fundado em novembro de 1980 pelo superior Geral dos Jesuítas, Pe. Pedro Arrupe, como sendo uma organização internacional da Igreja Católica. Tem como missão acompanhar, servir e defender as pessoas deslocadas internamente, em particular os refugiados. Segue os princípios da missão dos jesuítas no mundo de promover a justiça, o diálogo com outras culturas e religiões.
IHU On-Line – Qual o papel das Igrejas para com os refugiados, repatriados e deslocados?
Paulo Welter – As Igrejas vêm, ao longo de muitos anos, auxiliando no acolhimento dos refugiados e imigrantes, pois uma das maiores dificuldades que estas pessoas enfrentam é o acolhimento, e, logo em seguida, dificuldades de fazer os encaminhamentos junto às autoridades do governo para conseguir seus documentos. Devido ao medo e à insegurança, sem conhecer primeiramente ninguém, são nas Igrejas que tais pesssoas estabelecem o primeiro vínculo de confiança.
Em suas trajetórias de fuga, alguns chegaram ao seu destino e encontram em Deus a força e a segurança para continuar acreditar em dias melhores. Por mais que alguém se diga ateu, na hora do perigo, se lembra de um ser superior chamado Deus. Também as Igrejas dão muita credibilidade, e com mais facilidade é possível promover campanhas de ajuda. As Igrejas têm boas lideranças que se colocam à disposição para ajudar nos serviços de acolhimento. Por parte do governo, esse processo sempre é mais demorado, e são as Igrejas que iniciam e promovem a rede de solidariedade.
IHU On-Line – Como o tema é abordado pela comunidade internacional? Em que países a situação dos refugiados é mais complicada?
Paulo Welter – A comunidade internacional, através da ONU e especialmente pelo Alto Comissário das Nações Unidas para Refugiados – ACNUR, trata estes temas com muita seriedade, pois afetam a segurança mundial. Ela procura manter o controle sobre as crises humanitárias no mundo.
Os países mais complicados no momento me parecem ser os do Oriente Médio, como a Síria, e na África, o leste da República Democrática do Congo, na região do Kivu Norte.
IHU On-Line – Como podemos perceber o “rótulo” de refugiado em tempos de globalização?
Paulo Welter – No mundo globalizado jamais será possível entender a existência de pessoas refugiadas. Falta globalizar o ser humano. Mas isso será muito difícil, uma vez que, nesse processo de globalização, faltam valores éticos necessários no relacionamento de respeito entre as pessoas. Parece-me ser muito difícil a globalização sem valores humanos e sem união entre as pessoas. Assim sendo, o “rótulo” continuará nas pessoas refugiadas, muitas vezes vistas e reconhecidas como sem valor, como a massa sobrante da sociedade. Devemos nos preocupar em mudar este tratamento e proporcionar aos refugiados dignidade como pessoas com valores. Certamente eles têm muito para contribuir com seus conhecimentos e cultura no país de acolhida. Tudo isso é um processo que deverá constantemente ser tratado por parte das autoridades, agentes e pessoas que se dedicam à causa dos refugiados no sentido de fazer com que a sociedade mude o seu procedimento ou o comportamento em relação aos refugiados, atribuindo-lhes valores. Se um dia isso acontecer, poderíamos dizer que a humanidade e os povos estão globalizados.
IHU On-Line – Como foi sua experiência no Serviço Jesuíta aos Refugiados em Angola?
Paulo Welter – O trabalho em Angola e com o JRS foi muito marcante na minha vida; com ele aprendi a ser mais solidário e a partilhar a vida. Encontrei pessoas boas, próximas e amigas. Sempre fui bem tratado por todos e pelas autoridades do governo de Angola. Em poucas palavras, posso afirmar que foram seis anos especiais em minha. Conheci um pouco do continente africano, sua cultura e seu povo. Guardo com muito carinho todas as pessoas com quem partilhei a vida. Apenas sei que Angola e África marcaram a minha vida e sou grato por esta oportunidade que tive.
IHU On-Line – Qual a atual situação dos refugiados na Angola?
Paulo Welter – Angola tem uma história muito interessante em relação aos refugiados. Em primeiro lugar, mesmo durante os anos de guerra civil, proporcionou acolhimento e refúgio para inúmeros africanos de outros países, como do Congo, Ruanda, Costa do Marfim, Serra Leoa e outros.
Outro fator positivo é que em Angola os refugiados não foram colocados em campos de refugiados, e sim foram integrados na sociedade angolana. Em alguns casos foram criadas comunidades de refugiados, mas livres e abertas, sem controle, o que ocorre nos campos de refugiados. Isso dá mais dignidade a eles e ajuda na integração no novo país.
Brasil e Angola
Com a vinda da paz definitiva em 2002, Angola está avançado muito na questão de legislação e documentação para os refugiados, buscando integrar os que escolhem seu território como local para refúgio. Ele tem proporcionado acesso à saúde, à escola, à documentação. Dentro das suas possibilidades, oferece vida digna. Em Angola a língua oficial é o português e seu povo pode ser considerado “primo” dos brasileiros. Brasil e Angola mantêm constante troca de experiências sobre como melhorar a legislação e o tratamento dos refugiados. Ele é um exemplo para muitos países africanos referente ao acolhimento e refúgio, e vem se destacando como um país de refência em relaçãos aos refugiados no continente africano.
O Serviço Jesuíta aos Refugiados – JRS continua a sua missão em Angola e oferece diversas atividades de formação, educação, microcrédito, atividades contra a violência, assessoria jurídica etc. Todas elas são desenvolvidas em parceria com o ACNUR, com outras ONGs e com o governo local. O JRS é considerado uma referência muito importante para os requerentes de asilo, refugiados e autoridades.
IHU On-Line – Com seu retorno ao Brasil, como surgiu a ideia de criar o Projeto Pró-Haiti?
Paulo Welter – A criação do Projeto Pró-Haiti surgiu a partir do grande número de imigrantes haitianos que vinha chegado a cada semana de Tabatinga para Manaus, na Igreja São Geraldo. Esta migração se deu logo após o terremoto em 2010, e a Pastoral do Migrante da Arquidiocese de Manaus, sob a coordenação das irmãs scalabrinianas e dos padres scalabrinianos da Igreja São Geraldo – auxiliados por outras congregações religiosas e o povo amazonense –, prestou os primeiros atendimentos de acolhimento, o que incluía principalmente alimentação e moradia. Quero ressaltar o importante trabalho das autoridades do governo que proporcionaram a documentação, como o CPF e a Carteira de Trabalho. Destacaram-se a Polícia Federal e o Ministério do Trabalho. Logo que os haitianos tinham sua documentação, muitas empresas contrataram de imediato esta mão de obra, principalmente na construção civil na cidade de Manaus. Em seguida despertou o interesse de muitos empregadores de São Paulo e do sul do Brasil, que contrataram trabalhadores haitianos.
Pró-Haiti
Como a demanda era muito grande e a Igreja São Geraldo não conseguia vencer todos os atendimentos, os jesuítas resolveram somar forças e criaram o projeto Pró-Haiti em fevereiro de 2012. Até esta data os jesuítas na região amazônica não tinham quase nenhuma participação concreta. Eu pessoalmente participava das reuniões da Pastoral do Migrante e pouco poderia fazer de concreto por parte dos jesuítas, uma vez que falta definir o que e como integraríamos a “rede de solidariedade em favor dos imigrantes haitianos” na região amazônica e Brasil.
Após uma reunião, ficou estabelecido que o Pró Haiti auxiliaria não no acolhimento, mas sim na área profissional e no encaminhamento da documentação junto às autoridades, oferecendo aulas de português, assessoria jurídica, artesanato, banda de música, tradução de crioulo para português. Este último era particularmente necessário porque poucos haitianos falavam ou entendiam português.
Portanto, foi assim que surgiu o projeto Pró Haiti: para somar forças e prestar um trabalho profissional e específico. A equipe é integrada com pessoas qualificadas em atender às necessidades dos haitianos, e se tornou um espaço de encontro e partilha dos seus sofrimentos e anseios de vencer na vida.
IHU On-Line – Como tem sido a aceitação do projeto por parte da Igreja e que tipo de apoio tem recebido dela?
Paulo Welter – O projeto Pró-Haiti, por parte da Igreja Católica e outras Igrejas, foi e continua sendo um projeto de respeito por conduzir de forma profissional, ética e transparente as suas atividades e missão. Para isso, é fundamental ter uma equipe com a devida qualificação e que faça o trabalho com amor e compaixão, ou seja, sempre se colocando nos sapatos do haitiano que está longe de sua terra natal e necessita de pessoas que realmente orientem de acordo com a legislação brasileira. A Igreja Católica, através da Caritas, dos scalabrinianos, dos capuchinhos e de outras congregações de freiras, demostrou o melhor carinho por este projeto.
A Igreja de Manaus proporciou apoio financeiro através da Caritas Diocesana e dos jesuítas do sul do Brasil. O superior geral dos Jesuítas, sediado em Roma, também proporcionou ajuda financeira. Igualmente recebemos mais apoio de um doador espontâneo, de São Paulo, e um de um grupo de italianos, que fizeram campanhas de roupas e enviaram alguns valores.
IHU On-Line – Qual o significado desse trabalho para os imigrantes, que muitas vezes chegam aqui no Brasil sem perspectivas e sofrem muita discriminação?
Paulo Welter – Esta pergunta deveria ser respondida por algum haitiano. Mas sei o que os haitianos partilharam no Escritório do Pró-Haiti. Vinham e agradeciam pela assistência recebida e afirmaram inúmeras vezes que não saberiam como seria a vida deles se não tivessem recebido o apoio jurídico e o auxílio para o encaminhamento de seus documentos. O Pró-Haiti se tornou um segundo lar para eles. Um lugar para partilhar a vida e resolver os problemas de forma profissional nas mais diversas áreas. Encontram sempre no Pró-Haiti um ombro amigo e seguro.
IHU On-Line – Três anos depois do terremoto que atingiu o Haiti, como o senhor vê a postura do Brasil em relação aos imigrantes?
Paulo Welter – O Brasil, como mais alguns países, tem uma postura positiva e inovadora em relação aos imigrantes haitianos, vítimas do terremoto. O Brasil foi obrigado a atender uma demanda de imigrantes haitianos sem a devida legislação. Os haitianos simplesmente resolveram migrar para Brasil de diversas formas, em busca de melhores condições de vida. Tabantinga e Manaus foram as cidades que mais receberam haitianos no país, seguidas de Brasileia, no Acre.
O Ministério da Justiça, através do Conare, da Polícia Federal e do Ministério do Trabalho e Emprego, encontrou uma solução importante no sentido de proporcionar a documentação necessária para que os haitianos vivessem e trabalhassem legalmente no Brasil; isso se deu mediante o visto humanitário. Está decisão possibilitou a contratação de muitos imigrantes, gerando oportunidade para eles e para as empresas.
IHU On-Line – O senhor trabalhou com os haitianos que chegaram ao país nos últimos dois anos, através do projeto Pró-Haiti. Como ocorreu o ingresso deles no Brasil e o que relatam sobre a atual situação do seu país de origem?
Paulo Welter – Inicialmente, o ingresso dos imigrantes haitianos no Brasil foi quase todo feito de forma ilegal. Mas eles se apresentaram às autoridades solicitando o refúgio. Num primeiro momento, as autoridades brasileiras não estavam preparadas e tampouco havia uma legislação que orientasse a Polícia Federal como proceder. A grande dúvida era se classificavam os haitianos como refugiados ou imigrantes.
Em janeiro de 2012, o Ministério da Justiça resolveu legalizar todos os haitianos que estavam no Brasil, na intenção de impedir o tráfico de pessoas através de redes organizadas internacionalmente. Mesmo assim, continuaram entrando haitianos em Brasileia, no Acre, e Tabatinga, no Amazonas. O Brasil novamente cedeu, em virtude da ajuda humanitária, e legalizou estes imigrantes haitianos. Os vistos aos haitianos que desejam migrar para o Brasil são concedidos somente pela Embaixada do Brasil no Haiti, com um limite de 100 vistos por mês. No momento, esta regra também já não é mais considerada, e os vistos podem ser superiores a 100 por mês e tais adaptações se fazem necessários na legislação.
IHU On-Line – Muitos haitianos, após chegarem ao Amazonas e Acre, imigraram para outros estados, entre eles o Rio Grande do Sul. Qual a situação deles no estado e em que regiões estão localizados?
Paulo Welter – Os haitianos, após terem sua documentação para trabalhar, migraram para outras regiões do Brasil. Entre estas se destacam São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
No Rio Grande do Sul, podemos encontrar haitianos quase em todas as cidades, graças à divulgação dos meios de comunicação, que despertaram a sensibilidade e o interesse de empresas do sul. No estado, os haitianos moram em Estrela, Lajeado, Encantado, Marau, Paraí. Há um bom número de imigrantes trabalhando em diversas outras cidades da serra gaúcha, como também em Sarandi, Igrejinha e Gravataí. É importante destacar ainda que o Rio Grande do Sul deu um passo importante através do governo, no sentido de criar o Fórum Permanente no final do ano de 2012, que envolve a sociedade civil e o governo.
IHU On-Line – Quais os desafios para pensar a questão dos imigrantes e dos refugiados nos dias de hoje?
Paulo Welter – A vida é feita de desafios e buscas de melhores condições para se viver. Para os imigrantes e refugiados estes desafios sempre são urgentes e quase imediatos, pois a vida está em perigo e precisam encontrar uma solução. As organizações internacionais e nacionais apontam como desafio a possibilidade de proporcionar soluções duradouras e projetos que ofereçam oportunidades aos migrantes e refugiados. Dar comida é algo imediato e, em muitos casos, é disso o que mais necessitam tais pessoas. Mas não se pode dar comida por muito tempo, especialmente quando a demanda é grande. Encontrar atividades e projetos com soluções duradoras é, portanto, o grande desafio.
IHU On-Line – Qual a relação entre direitos humanos e refugiados? O que diz a legislação internacional para com as populações de refugiados e repatriados?
Paulo Welter – Os direitos humanos e refugiados têm uma relação muito próxima, pois a vida de seres humanos, no caso os refugiados, tem seus princípios fundamentais violados ou ameaçados.
A legislação internacional é clara em relação aos refugiados e repatriados. Podemos afirmar que ela foi bem elaborada. Porém, difícil é cumprir esta legislação. Sempre se depende de muitos outros fatores não previstos nela, tais como o afeto à sua família e à pátria, imprevistos e novos conflitos, a questão financeira, o acesso à terra, ao trabalho, à documentação etc. Por isso os envolvidos que trabalham diretamente com uma população refugiada precisam ter qualificação para trabalhar de maneira criativa, atendendo às necessidades dos refugiados e repatriados.
IHU On-Line – Deseja acrescentar algo?
Paulo Welter – Com o expressivo número de haitianos no sul do Brasil, e a necessidade constante de renovação de seus passaportes, eles precisam de orientações concretas sobre encaminhamentos de documentos via consulado e ou Embaixada. É preciso defender seus direitos e proporcionar uma vida mais digna e segura.
Na cidade de Feliz foi atropelado um haitiano que morreu na hora ao ser atingido por um motorista brasileiro bêbado. Ele foi enterrado em Feliz, mas quem acompanha seus dois filhos no Haiti e o processo de crime no Brasil? Como fica tudo isso? A maioria dos haitianos homens que está no Brasil deixou sua esposa e filhos no país de origem, e agora desejam fazer a unificação familiar, direito previsto aos haitianos na legislação. Todavia, não há assistência e os encaminhamentos são feitos em São Paulo ou Brasília. Por isso, proponho que, urgentemente, seja instalado no Rio Grande do Sul um subescritório consular do Haiti para atender à demanda dos imigrantes que vivem aqui.
Por último, foi e continua sendo muito bom poder ajudar os imigrantes haitianos no Brasil, e gostaria de agradecer a todas as pessoas e empresas que ajudam, formando assim uma grande rede de solidariedade e proporcionando dignidade ao povo haitiano.
quarta-feira, 16 de janeiro de 2013
Jovens da JMJ terão assistência médica integral
Cerca de 500 profissionais, entre médicos, enfermeiros, técnicos e acadêmicos de medicina e enfermagem, são esperados para trabalhar como voluntários na Jornada Mundial da Juventude (JMJ) em julho de 2013. Um núcleo de dez pessoas, coordenado pelo médico e voluntário da saúde na JMJ, Pedro Pimenta de Mello Spinetti, já trabalha para garantir o bem estar de todos os participantes no evento.
Com o aumento das temperaturas e o acúmulo de pessoas em um só local, o risco da proliferação de bactérias e vírus é grande. Pedro explica que além da oração é preciso se preocupar com o estado de saúde dos voluntários e milhões de peregrinos que virão para o Rio de Janeiro.
“Algumas ações estão sendo planejadas desde 2011 para capacitar os voluntários, não só da área da saúde, mas de todas, para garantir um evento sem riscos. Pequenas ações como distribuição de água potável em grande quantidade, lavar as mãos antes de distribuir alimentos, coleta e separação do lixo são atitudes fundamentais para reduzirmos o número de eventos adversos à saúde durante a JMJ”, explica o médico.
O número ideal de médicos e enfermeiros para atuar na saúde, segundo Pedro, seria de 600 voluntários, mas os peregrinos não deixarão de ser atendidos em qualquer emergência: “O Brasil é um dos poucos países do mundo com sistema de saúde com atendimento universal e até mesmo os estrangeiros têm direito a assistência nos Hospitais do SUS. Certamente, durante a JMJ, todo o sistema de saúde da cidade estará de prontidão para receber os peregrinos que dele necessitarem”, finaliza.
Campanha da Fraternidade completará 50 anos em 2013
Este ano, a igreja do Brasil estará mais voltada para as temáticas relativas à juventude. No dia 13 de fevereiro, quarta-feira de Cinzas, será lançada mais uma edição da Campanha da Fraternidade (CF), com o tema “Fraternidade e Juventude” e o lema “Eis-me aqui, envia-me!” (Is 6,8). Mas além da atenção voltada à juventude, em sua temática, outro motivo de celebração é que a campanha estará completando o seu cinquentenário de fundação.
A Campanha da Fraternidade, coordenada pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), é realizada anualmente pela Igreja católica, sempre no período da Quaresma. A cada ano é escolhido um tema, que define sob qual perspectiva a solidariedade será despertada, em relação a questões que envolvem toda sociedade brasileira.
O secretário executivo da Campanha da Fraternidade, padre Luiz Carlos Dias, afirma que um dos papéis da CF é ser um “elo” entre a igreja, os fiéis e a sociedade. “A campanha da Fraternidade é a igreja a serviço da sociedade, é uma evangelização que ultrapassa as fronteiras da igreja e, dessa forma, a igreja cumpre, de fato a sua missão, que é evangelizar de uma forma bem ampla”, explica o padre.
A história da fundação da CF teve início quando três padres responsáveis pela Cáritas brasileira, em 1961, idealizaram uma campanha para arrecadar fundos para as atividades assistenciais e promocionais da instituição e torná-la autônoma financeiramente. A atividade foi chamada Campanha da Fraternidade e realizada pela primeira vez na quaresma de 1962, em Natal (RN), com adesão de outras três Dioceses e apoio financeiro dos Bispos norte-americanos.
No ano seguinte, 16 dioceses do Nordeste realizaram a campanha. A princípio não houve grande êxito financeiro, mas foi o embrião de um projeto anual dos Organismos Nacionais da CNBB e das Igrejas Particulares no Brasil, realizado à luz e na perspectiva das Diretrizes Gerais da Ação Pastoral (Evangelizadora) da Igreja em nosso País.
“Esta Campanha, desde seu nascedouro na arquidiocese de Natal, mostrou que seria um importante instrumento para os fiéis viverem intensamente a quaresma, pois foi capaz de fazer convergir as orações e reflexões para gestos concretos de conversão e transformação da realidade, em vista do mistério pascal de Nosso Senhor Jesus Cristo”, elucida padre Luiz.
Este projeto foi lançado, em nível nacional, no dia 26 de dezembro de 1962, sob o impulso renovador do espírito do Concílio Vaticano II, o que foi fundamental para a concepção e estruturação da CF. Ao longo de quatro anos, durante as sessões do Concílio, onde houve diversos momentos de reunião, estudo, troca de experiências, nasceu e cresceu a CF.
Sobre a celebração aos 50 anos da CF, padre Luiz Carlos revela que este é um momento de “voltar às raízes do espírito que levou ao nascimento da CF”. Para o lançamento, ficou definida na manhã da quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013, uma visita ao município de Nísia Floresta (RN), localidade onde a Campanha teve início.
A programação seguirá ainda no dia 14, à tarde, quando haverá uma entrevista coletiva com a imprensa. No dia 15, será realizado um seminário sobre a temática da CF 2013 – “Fraternidade e Juventude”. Neste mesmo dia, às 17h, será realizada a solenidade oficial de lançamento, e, às 20h, será celebrada uma missa na Catedral Metropolitana de Natal (RN).
Pastoral da Juventude promove debate sobre extermínio de jovens
“Vamos juntos gritar, girar o mundo. Chega de violência e extermínio de jovens!” é o tema da Campanha Nacional contra a violência e o extermínio de jovens, que vem sendo realizada desde 2009 pelas Pastorais da Juventude.
A Campanha levou à sociedade o debate sobre as diversas formas de violência contra a juventude, especialmente o extermínio, bem como ao longo dos anos, pressionou o poder público para o enfrentamento da mortalidade juvenil por meio da garantia dos direitos da juventude.
Importante também ressaltar o engajamento de diversas organizações (eclesiais e da sociedade civil), assim como de um grande número de grupos juvenis na construção da Campanha até agora. Nessa articulação uma grande parceria sempre foi a Conferência dos/as Religiosos/as do Brasil (CRB Nacional), envolvendo a vida religiosa na pauta sobre a vida da juventude.
Entretanto, a situação de extrema vulnerabilidade e violência ainda está presente na imensa maioria dos jovens brasileiros/as, com ênfase entre a juventude empobrecida. A firme atuação de todos os segmentos da sociedade civil e do poder público para garantir o direito dos jovens à vida digna e ao seu pleno desenvolvimento deve ser cada vez mais fortalecida.
Deste modo, a ação de conscientização e mobilização da Campanha Nacional contra a violência o extermínio de jovens dá um novo passo:
Para darmos início a esta nova etapa da Campanha, a Pastoral da Juventude (PJ), em parceria com a CRB Nacional, com o apoio da Porticus América Latina e de outras organizações, realizará, de 3 a 5 de maio de 2013, em Brasília/DF, o Seminário Nacional da Campanha contra a violência e o extermínio de jovens, tendo como objetivo desencadear novas ações articuladas com organizações envolvidas na defesa da vida da juventude.
É necessário denunciar o avanço da violência e propor saídas para esta realidade como a ampliação dos direitos humanos e valorização dos marcos da cidadania. O engajamento e fortalecimento dos grupos de jovens para a Campanha Nacional, bem como a capacitação técnica das representações de jovens dos regionais da CNBB, também serão pontos prioritários do Seminário.
Para saber mais sobre o Seminário Nacional, entre em contato com o jovem Coordenador Nacional da Pastoral da Juventude (CNPJ) e/ou o jovem referência do projeto “A Juventude quer viver” do seu regional. Acompanhe também pelas redes sociais da PJ o lançamento, quinzenal, de novos temas norteadores da Campanha. Qualquer dúvida entre em contato conosco. O e-mail da secretaria nacional (
secretarianacional@pj.org.br
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) também está disponível para mais informações.
Romaria da Terra e a promoção da cidadania constante. Entrevista especial com Olívio Dutra
“A Romaria da Terra promove a cidadania constante, permanente, solidária, ativa, transformadora”, afirma o ex-governador do Rio Grande do Sul.
Confira a entrevista. Na terça-feira de carnaval, dia 12 de fevereiro de 2013, irá acontecer a 36a Romaria da Terra, na Comunidade Bom Pastor, em Bento Gonçalves, na Diocese de Caxias do Sul. O tema deste ano é “Terra e Cidadania: Princípios do Bem Viver”. Um dos participantes mais antigos e engajados é o sindicalista e político gaúcho Olívio Dutra, que afirma participar das romarias antes de ter qualquer cargo público de importância. “Participo como militante social, popular, comunitário, sindical e como originário de uma família de sem-terra que saiu do campo e veio para a cidade. Por tudo isso eu me sinto muito envolvido de coração e de consciência com um movimento baseado na fé, na esperança, na solidariedade e que também propõe mudanças na política econômica e, particularmente, na política agrícola e agrária”, disse, na entrevista que aceitou conceder à IHU On-Line por telefone. Olívio destaca a importância dos partidos políticos, mas reitera que o movimento Romaria da Terra é independente de favores ou de benesses oficiais ou oficiosas. “O movimento tem força própria e é, portanto, sujeito desse processo. Nesse sentido, ele estimula, instiga e provoca a cidadania constante, para que as pessoas não sejam cidadãs somente na hora de votar, quando tem eleição, ou para eleger alguém conhecido seu, familiar ou amigo. Não. A cidadania é algo do cotidiano das nossas vidas”. Olívio de Oliveira Dutra (foto) foi prefeito de Porto Alegre (1989 a 1993), governador do Rio Grande do Sul (1999 a 2003) e ministro das Cidades (2003 a 2005) no primeiro mandato do governo Lula. Formado em Letras, foi funcionário concursado do Banrisul, banco estatal gaúcho. Nessa condição, começa a militar no Sindicato dos Bancários de Porto Alegre, e chega à presidência da entidade em 1975. Comandou a greve geral do funcionalismo público de setembro de 1979, motivo pelo qual foi preso pelo regime militar e perdeu seu mandato sindical. No contexto da redemocratização brasileira, participou da fundação da seção gaúcha do Partido dos Trabalhadores, da qual foi presidente de 1980 a 1986. Atualmente, preside o diretório gaúcho do PT. Confira a entrevista. IHU On-Line – De forma geral, qual a importância da Romaria da Terra enquanto uma promoção que aborda a agricultura familiar, o cooperativismo e o consumo consciente? Olívio Dutra – Em primeiro lugar, é preciso dizer que ela tem um caráter de fé, de religiosidade, que são coisas muito enraizadas na cultura do nosso povo, em particular das pequenas comunidades, da agricultura de economia familiar, ligada à base da Igreja Católica, mas também com participação de outras manifestações religiosas. A Romaria da Terra envolve igualmente a cultura dos índios, dos negros e de outras etnias que têm a ver com a produção de alimentos, o trato com a terra e a vida no seu sentido mais amplo. Então, as romarias são um chamamento constante a essa relação consciente do homem consigo mesmo, com o valor da comunidade, da organização a partir da família, da movimentação solidária, da caminhada em busca de uma terra sem males, que, por sinal, é também da cultura indígena, guarani. Agora, a romaria envolve também a questão da segurança alimentar, da produção de alimentos para a vida e não para a morte. É preciso dizer sim ao desenvolvimento de uma tecnologia que possibilite a produção de mais alimentos sadios, sem uso de agrotóxicos e de veneno, para garantir alimentos fartos e sadios na mesa de todos, no campo e na cidade, e que o agricultor, a agricultura e sua família possam viver dignamente na condição de agricultores. IHU On-Line – Há quantas edições o senhor participa? O que lhe motiva a se engajar neste projeto? Olívio Dutra – Eu sou um romeiro antigo e não deixo de participar de nenhuma das romarias, onde quer que ela se realize, a não ser em alguma situação excepcional. Eu participo das romarias antes de ter qualquer cargo público de importância, mas como militante social, popular, comunitário, sindical e como originário de uma família de sem-terra que saiu do campo e veio para a cidade sobreviver com a atividade de carpinteiro, como foi meu pai, e de doméstica, como minha mãe, para criar cinco filhos. Por tudo isso eu me sinto muito envolvido de coração e de consciência com um movimento baseado na fé, na esperança, na solidariedade e que também propõe mudanças na política econômica e, particularmente, na política agrícola e agrária. Nós ainda andamos atrás de uma reforma agrária efetiva neste país, para o desenvolvimento mais parelho, desconcentrado, descentralizado do Brasil, com enormes áreas sendo apropriadas por grupos empresariais, inclusive estrangeiros, enquanto temos milhares de famílias de trabalhadores acampados naqueles corredores ou na frente desses enormes latifúndios que produzem bens para exportação com muito uso de agrotóxico e pequeno número de mão de obra. Então, é preciso mexer em tudo isso e as romarias buscam essa reflexão, estimulam, instigam e provocam essa conscientização. E, evidentemente, querem que a voz de milhares de pessoas chegue às autoridades em todos os níveis: municipal, estadual, federal, executivo, legislativo, judiciário. Mas é preciso que seja a voz da sociedade, do povo que se mobiliza, se organiza e que caminha na busca dos seus direitos, sempre na visão social de garantir – num mundo que tem carências de tanta coisa – que não haja carência de fé, de esperança. Tudo isso vem do povo que também tem um amor enorme pela terra e pelo que ela produz, além do amor pelo conhecimento, pelo saber adquirido por meio da experiência, o saber que a escola, a universidade, a pesquisa, a extensão rural trazem para facilitar a vida da agricultura de economia familiar. IHU On-Line – Há alguma edição que mais lhe marcou? Olívio Dutra – Todas são marcantes, porque encontramos muitas pessoas que vêm de diferentes situações, origens, experiências e todas elas nos ensinam, nos enriquecem. Vejo figuras das pastorais, que são pessoas importantes, humildes, modestas, que se desenvolveram na vida do ponto de vista de melhorar sua renda, suas condições de trabalho, de moradia, e que não desistiram de continuar na luta, ou seja, que não estavam na luta em benefício próprio, mas porque entendem que o bem tem que ser para a maioria, já que não é possível que seja para todos, que é o sonho de todos nós que queremos um mundo de igualdade, de justiça. Onde quer que haja injustiça e carência, o ser humano está sofrendo. Portanto, é preciso que haja um movimento que irradie esperança de que as coisas mudem para melhor. IHU On-Line – Qual a importância das romarias para que os participantes sejam sujeitos da política e construtores da história? Olívio Dutra – A romaria é um processo que não tem dono, nem uma igreja ou credo. Todas as edições são precedidas de muitos encontros comunitários, nas comunidades distantes, nas periferias das cidades, nos bairros, igrejas, escolas, em diferentes situações onde as pessoas se reúnem para discutir como, juntos e solidariamente, transformar para melhor a realidade como um todo. Tanto que podemos sonhar com um mundo que não é este em que estamos sofrendo, baseado nas leis do lucro, dos mais fortes e importantes se sobrepondo aos interesses comunitários, pequenos, mas sim um mundo com igualdade, fraternidade e solidariedade, com um desenvolvimento ecologicamente sustentável, economicamente viável e socialmente justo. Para isso, todos nós temos que ser sujeitos e não objetos da política. Os partidos políticos são muito importantes, tanto que aqui aparece a necessidade de uma reforma política para que os partidos não sejam balcões de negócios. Mas os partidos possuem as suas atividades, não são eles que dirigem as romarias. Eles são parte, são também sujeitos nesse processo de construir solidariamente essa caminhada que se renova a cada edição da Romaria da Terra. Esperamos que o governo federal – e eu tenho certeza que a presidente Dilma terá sempre uma atenção especial para o povo que se movimenta – e que o Tarso Genro, no governo do estado, deem atenção e tenham interesse e disposição para isso. Mas o movimento, independentemente se governos federais, estaduais ou municipais façam ou deixem de fazer, possam ou não fazer, não depende de favores ou de benesses oficiais ou oficiosas. O movimento tem força própria e é, portanto, sujeito desse processo. Nesse sentido, ele estimula, instiga e provoca a cidadania constante, para que as pessoas não sejam cidadãs somente na hora de votar, quando tem eleição, ou para eleger alguém conhecido seu, familiar ou amigo. Não. A cidadania é algo do cotidiano das nossas vidas. O ser humano não se realiza na plenitude da sua missão se não for cidadão todos os dias da sua existência. Então a Romaria da Terra promove a cidadania constante, permanente, solidária, ativa, transformadora. IHU On-Line – É interessante o casamento que a Romaria promove entre fé e política... Olívio Dutra – É verdade. É importante que se tenha isso. E não estamos falando aqui de fé nesta ou naquela religião, mas uma fé no ser humano e na transcendência, nas possibilidades enormes que o ser humano tem de ser solidário, organizado, participativo, cidadão, ao ser sujeito dessa transformação. |
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